Como me esqueci de mencionar algumas coisas no post anterior o faço agora.
Não consigo mais parar de ouvir Trio Los Panchos, então resolvi também, de certa forma, homenageá-los fazendo referências a trechos e nomes de algumas músicas suas, que são grandes clássicos do cancioneiro latino. Essas músicas representam um pouco da poesia na América Latina e revelam também um pouco dos costumes destes povos. E como disse no post anterior, meu objetivo era buscar um apelido, um codinome para minha homenageada mor. Assim determinado, me inspirei neste cancioneiro, mas não pude repeti-lo. Não poderia nunca chamá-la de piel canela, mas em muitos momentos resgatei inesquecíveis ojos negros, morenita.
Fiz outras referências a América Latina na descrição da paisagem. Estão lá uma favela, o chão de barro e areia, que podem também remeter ao México e Chile; o morro, a Cordilheira dos Andes; o pisco, ao Chile e Peru, e também a nossa boa cachaça de alambique; o ar brincalhão da morena que se apresenta quase como uma entidade pré-Colombiana, uma infantilidade e inocência indígena.
Deixo ainda para vocês o poder decisão: extraí o termo moreninha do Joaquim Manuel de Macedo de seu aclamado romance A Moreninha ou ambos tivemos a mesma motivação e inspiração?
Quanto ao oásis somente os personagens sabemos do quê se trata!
Não consigo mais parar de ouvir Trio Los Panchos, então resolvi também, de certa forma, homenageá-los fazendo referências a trechos e nomes de algumas músicas suas, que são grandes clássicos do cancioneiro latino. Essas músicas representam um pouco da poesia na América Latina e revelam também um pouco dos costumes destes povos. E como disse no post anterior, meu objetivo era buscar um apelido, um codinome para minha homenageada mor. Assim determinado, me inspirei neste cancioneiro, mas não pude repeti-lo. Não poderia nunca chamá-la de piel canela, mas em muitos momentos resgatei inesquecíveis ojos negros, morenita.
Fiz outras referências a América Latina na descrição da paisagem. Estão lá uma favela, o chão de barro e areia, que podem também remeter ao México e Chile; o morro, a Cordilheira dos Andes; o pisco, ao Chile e Peru, e também a nossa boa cachaça de alambique; o ar brincalhão da morena que se apresenta quase como uma entidade pré-Colombiana, uma infantilidade e inocência indígena.
Deixo ainda para vocês o poder decisão: extraí o termo moreninha do Joaquim Manuel de Macedo de seu aclamado romance A Moreninha ou ambos tivemos a mesma motivação e inspiração?
Quanto ao oásis somente os personagens sabemos do quê se trata!
Confira a 1ª parte aqui
Um sonho em terracota - parte 2
Talvez para me sacanear, começou a ventar. No princípio um alívio, mas logo ventou tanto que mais parecia uma tempestade de areia. Como em pleno Rio de Janeiro? Era sacanagem. Só podia ser. E das puras.
Chegou num ponto que não dava para ver mais nada. Me sentia imerso num mar terracota. Pelas minhas lembranças devia estar no topo do morro, mas a vista para a cidade lá embaixo não dava para ver. Sentei numa pedra e esperei aquela sacanagem acabar.
De um redemoinho pude ver um movimento diferente daquelas correntes de ar. Uma mistura perfeita da cor do barro claro e da areia quase branca surgia dentro daquele redemoinho. A figura foi se espiralando. Tomou formas femininas e uma moreninha saiu de lá.
Mirei em seus lábios carnudos e vermelhos da cor do sangue. Era impossível não olhá-los. Depois parei em seus olhos amendoados. Eram un par de ojitos negros com um cielito lindo como pano de fundo, exatamente como naquele bolero. Ela sorriu marotamente e retirou seu vestido da mesma cor de sua pele terracota.
Deus! ela ficou nua... na minha frente.
Mesmo sendo pequenininha, seus seios eram fartos. Dois montes creme com um grão de milho torrado em cada um deles. Ela era linda. A morena mais bonita que meus olhos podiam suportar ver sem serem destruídos.
Ela passou a língua pelos lábios e jogou os cabelos lisos. Foi caminhando e a cada passo que dava olhava para mim e sorria. Fui atrás dela. Aquilo parecia ser coisa do diabo, mas estava pouco me lixando para ele. Ela fazia questão de me mostrar o pé, que ela roçava no chão e suspendia até a altura da bunda, que por sinal era redondinha. Nenhuma mulher podia ter uma bunda daquela, ainda mais com aquela estatura. Era mesmo coisa do demo!
Ela desceu uma leve encosta e mergulhou num oásis. Aquilo não devia estar ali. Esfreguei meus olhos desejando continuar a vê-la quando os abrisse. E de fato ela estava lá. Com oásis e tudo. Quando criança aquilo era um lugar de desova, não uma maravilha como aquela.
E ela ensaiou nadar um pouco. Cuspia água em mim e sorria belamente. Afundava a cabeça para encher a bochechas de água e cuspir de novo. Era incrível ver aquela delícia terracota se banhando. Percebi que seus cabelos foram enrolando no contato com a água até cachear. Ficou ainda mais bonita. Então ela saiu deslumbrante do oásis. Veio na minha direção apertando os peitos. Fui abrindo a camisa arrebentando os botões. De entre seus seios ela tirou uma dose de alguma coisa e me deu. Era um líquido incolor. Cheirei. Tinha cheiro de álcool puro. Bebi.
Cara, era pisco! Só tinha tomado uma vez na festa dos peruanos do Méier. Como ela conseguiu aquilo? Era dificílimo encontrar um, ainda mais o peruano. E mais forte que o que tinha tomado.
Logo fez efeito e fui sentar na pedra. Ela ficou dançando na minha frente. Sacudia os cabelos para continuar me molhando. Lambia os ombros, os braços, me mostrando como era linda e única aquela pele terracota. Seus lindos olhos de morena me diziam que nunca mais encontraria uma como ela.
Então levantei. Estava decidido a beijar aquela boca, sugar aquela pele, apertar aquele corpo macio contra o meu. Ela se abaixou, começou a escrever no chão. Quando abaixei-me perto dela, perdi o equilíbrio por causa do pisco e caí. Ela ficou rindo com aqueles dentes grandes, brancos. Levantei-me e vi o que tinha escrito. “Vivi”. Perguntei se esse era seu nome. Como não houve resposta, ergui minha mão disposto a tocar em um de seus seios. Ela encheu as bochechas de ar e cuspiu água do oásis em meu rosto.
Quando terminei de secar meu rosto na camisa que tinha tirado, ela estava afastada, mas sorria me dando língua. Perguntei novamente se aquele era seu nome. Então ela se abaixou e voltou a escrever no chão. Me chamou com a mão e apontou para que lesse. Cheguei perto e estava escrito “aqui muito antes de vocês.” Levantei a cabeça para dizer a ela que não tinha entendido, mas ela já estava descendo o morro pelo mesmo lado em que eu viera. A moreninha se ia dançando, levantando os braços, mandando beijos com as mãos, levando embora seus olhos negros e sua pele terracota. Começou a ventar e um pano passou perto dela, que o segurou. Era um véu. Ela girou-o no ar várias vezes. Escondia o rosto nele e mostrava. Minha última lembrança sua foi o seio, que cobriu, me mostrou e depois cobriu novamente. A ventania começou a cobri-la e não a vi mais.
O sol voltou a me incomodar e a me queimar. Segui meu caminho descendo para tomar o ônibus ao Centro. Levei comigo o fraco zunido do vento, que assobiava como uma flauta andina, e o copinho da dose de pisco, que guardo até hoje.
Em 16/05/2011.