sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

A morte de 2008

Este é um conto inspirado no "A Vez de Outubro", Coisas Frageis, de Neil Gaiman. Reaproveito o personagem Anjo, o menino (já) morto de sua estória. Senti que faltou um pouco mais da personalidade de Anjo. Espero que mestre Gaiman não fique decepcionado. Até porque acredito que toda sua atenção recaiu sobre Outubro e sua maneira peculiar de contar esta estória.
Em "A morte de 2008" procurei seguir a mesma idéia de Gaiman, sendo que ao invés usar meses como personagens, usei anos. Também por achar que ele já estrapolou esta idéia, assim como fizera com a fênix, no mesmo livro. Espero sinceramente estar enganado.

"A morte de 2008

O velho 2008 embalava um bebê em seus retorcidos braços. Com sua enrugada mão acariciava os cachos do bebê. Embalava-o e cantava uma canção sem palavras. Apenas com sons sem significado. Sua voz era grave, lenta e arrastada. Como o ranger de uma porta. O bebê dormia profundamente.
Pigarreou e começou a contar uma estória que se chamava:

Como morrer em dezembro

Ele abriu os olhos e sentiu frio. As mãos gélidas do frio, que cego, avidamente apalpa, explora, toma. Era como estar desnudo, desamparado, desprotegido. O frio o tocava, palmo a palmo, dedo a dedo...
Decidiu então se levantar. Olhou em redor. Estava no tablado do antigo teatro da cidade. Olhou suas roupas. Estavam sujas de sangue, areia e pó. Ele não saberia dizer porquê. Não conseguia se lembrar. Endireitou suas roupas, tentando desamarrotá-las, e desceu do tablado.
Caminhou por aquele lugar escuro, onde a luz do dia só penetrava por uma miúda janela de vidro de trinta centímetros aproximadamente. Lembrou-se que o teatro era abafado, úmido e tinha cheiro de mofo. Estranhamente não sentia o ar abafado, tampouco a umidade, apenas o frio que entrava por todas as suas vestes.
E mofo. O cheiro de mofo ainda era o mesmo. Ou maior. Mais intenso. Outrora achava que aquele cheiro poderia sufocá-lo, mas não agora. Agora sentia que era como o cheiro habitual das coisas, das circunstâncias. Era como o cheiro de um lugar novo, mas que, de certa forma, se sabe que agora é seu lugar.
Sentiu que pisou em algo. Ouviu o estalo. Ele se abaixou, tateando, e apanhou um objeto. Levou-o à luz do raio provindo da alta janela. Era uma flor de plástico. A mesma flor de plástico que usara na noite anterior para ensaiar.
Tentou lembrar do que aconteceu. Ele entrara por uma entrada pouco conhecida, nos fundos. Sabia que era só chutar bem forte uma tábua mal pregada. Fizera isso uma vez quando criança. Após isso nunca mais entrara no antigo teatro.
Fizera tudo como da última vez. Fizera tudo como da primeira vez. Então saiu da sala que possui essa entrada desconhecida e desceu as escadas que davam para o camarim. Tudo tão cheio de pó. Deixou como estavam.
Desceu para o palco por uma saída lateral. Ali mesmo trocou as roupas. As suas de Fabien Laurient pelas de algum “Amendoim” ou “Jujuba” qualquer. Não! Prometera a seu filho que um dia o faria conhecer Biscoito de Arroz. Era por isso que estava ali. Precisava ensaiar. O aniversário de seu pequeno filho estava chegando. Precisava ensaiar logo Biscoito de Arroz.
Após alguns números ensaiados, resolveu puxar uma corda que o estava atrapalhando. Puxou. Ouviu um zunido. Após isso nada mais. Um considerável espaço de inércia ocorreu entre o ruído e o abrir de seus olhos."

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Apresentação

"Essa gente deve saber quem somos e contar que estamos aqui". São com essas palavras que início os trabalhos deste blog. Ele tem por finalidade apresentar fragmentos de contos, poemas, romances, letras de músicas de minha autoria ou de amigos. Espero que possa cumprir meu intento com alegria e responsabilidade. Que todos aqueles que desejarem participar com comentários ou material sintam-se a vontade. Este blog será um lugar livre para discussão. Assim sendo, seja bem vindo ao Mundo da Penumbra.

_ Rodrigo Garcez Martins.