domingo, 14 de agosto de 2011

That Old Devil Moon

Quinta-feira, dia 11 de agosto de 2011 estive no CCBB para apreciar e me deleitar com a perfeita música de Miles Davis e conhecer mais sobre sua vida, já que praticamente nada sabia dele. Infelizmente não pude tirar fotos. A exposição Queremos Miles continha muitos objetos pessoais, como roupas usadas em shows, telas produzidas por Miles, fotografias antigas, reproduções e originais de flyeres, escritos e partituras.
Logo na primeira ante-sala, fui recebido por gravações antiguíssimas dele, da época em que tocava com Charlie Parker, Bill Evans. Apesar da qualidade das gravações, foi gratificante poder ler sobre sua vida, início de carreira, ver fotos da juventude ouvindo sua música. O que me chamou a atenção nessa exposição foi sentir a mudança significativa nas suas composições, e , ao mesmo tempo que sua carreira decolava. Nas primeiras salas, são nítidas as sequências de seu acelerado bebop, ao passo que ele vai evoluindo para o sentimentalismo de seu cool jazz. Reconheci várias músicas que adoro: Morpheus, Blue Haze, The serpent's tooth, na fase bebop e Freddie freeloader, Blue in green, Flamenco sketches, no cool jazz.
Mas emocionante mesmo foi ver fotos de mestre Davis ao lado de outros verdadeiros deuses do jazz: John Coltrane, Julian "Cannonball" Adderley, Herbie Hancock, Chick Corea, John Maclaughlin, embora a surpresa maior e o - também por que não dizer - deleite maior foi ver uma apresentação de um dos quintetos de Miles. A velocidade com que eles tocavam e
ra absurda. Simplesmente, eu, como ex-guitarrista tinha desconhecimento de que outros instrumentos pudessem chegar àqueles km/h. Muito antes de Joe Satriani, Steve Vai, Yngwie Malmsteen o velho e bom Miles Davis já botava todo o mundo no chinelo. Acho que fiquei quase meia hora assistindo àquele espetáculo. Durante esse tempo prestigiei momentos cômicos. Um senhor grisalho assistia ao vídeo compenetrado. Sua senhora, já impaciente, promove sua rabuja: "Como é, você não vem? Isso não vai acabar agora." Ao que ele só olhou com sobrancelhas de Ravengar. Ela se vai. Minutos depois ela volta. "Nossa, mas como ele se parece com o Pelé." Essa foi a deixa para o velhinho amante do jazz recolher sua vergonha. Acredito sinceramente que depois dessa ele desistiu da exposição, e de Miles para sempre, levando sua senhora para o Habib's mais próximo.
O clima intimista da exposição se deveu às pequenas salas projetadas para dar aquele ambiente dos antigos clubes de jazz. Geralmente com as paredes em vermelho ou preto. Não resisti e não pude deixar de dar um beijo, aproveitar o clima romântico ambientado. Só faltou mesmo uma Devassa ruiva ou uma Brahma extra.
Chegando no fim dos anos 60, há um Miles meio perdido. Não conhecia esse seu lado psicodélico e flertando com rock. Não gostei. Ficou muito samba do crioulo doido - com todo o perdão do trocadilho -. Mas reconheço que não poderia ficar de fora. Mais decepcionante foi a fase soul. Se a anterior lembrou Joe Cocker, Jimmy Hendrix, essa é marcada pelo flerte com James Brown, Jackson 5. Gostei menos ainda. Nos anos 80 minha opinião foi de que ele surtou. Parecia um poser, um Gene Simmons, e para quem sabe de quem se trata sabe o quão nojento isso é. São dessa época várias roupas de show. E há também vários vídeos de comerciais. Vale a pena pelas entrevistas.
Nos anos 90, e consequentemente no fim da exposição, parece que Miles botou a cabeça no lugar. As composições melhoraram muito. Ficaram com uma roupagem mais eletrônica, mas dá para sentir o velho Miles de volta.
Há uma sala dedicada às capas de álbuns. Algumas parecidas com capas de Santana, onde se pode ver os órgãos dos seres, em outras há nítidas referências à África. A sala seguinte mostra capas de álbuns com mulheres negras, relembrando o heroísmo de Miles ao impor à gravadora que assim fosse, afinal quem não gosta de uma negra ou mulata bom sujeito não é.
Uma nota a parte para os instrumentos. Foi muito legal descobrir que Miles decorava seus trompetes. Dá para perceber que era bem pessoal, porque de longe ninguém poderia notar, apenas ele, como um presente que a pessoa se dá. Então nos demos esse presente e vamos todos ao CCBB, porque literalmente "Queremos Miles".