quarta-feira, 27 de março de 2013

A Rabeca

Esse poema tem nitidamente inspiração na música Violin de Becho, de Alfredo Zitarrosa. Não se trata de homenagem ou cópia, numa alusão de compor algo menor, mas, antes, de buscar, viver a atmosfera de Zitarrosa para conceber uma obra gestada em seu mundo poético. Fato este que ocorre com o Solitário de Mariana em relação à magnitude de Verlaine.
O poema sugere um violinista que não pode tocar. A ansiedade é tanta que ele compara o violino ao êxtase do corpo de uma mulher (ou será o contrário?). Enfim, sem ambos, ele delira, pois é inidentificável sem esses elementos. Somente o sonho, o delírio pode manter a ausência em equilíbrio.
Um pouco de tudo isso não nos faria mal algum.


A Rabeca

Quando as folhas d’outono caem
Da rústica morada saem
O pequeno tocador e sua
Tristíssima figura à lua

Não leva nas mãos a rabeca
Leva nos sonhos a voz dela
Presente inda os trinados
De suas cordas por ele tocados

O leve corpo sinuoso
Da alva mariposa de madeira
– Rico acorde luminoso –
Entorpece sua alma ordeira

E em sonhos o tocador se perde
Delírios sem pudores que despe
Corda a corda da rabeca
Trinados diminutos dela

Acordes, harmonias, peças
Rapsódia das mais belas
Como amantes apaixonados
Tocador e rabeca iluminados

E no mais belo sonho de luar
O tocador de joelhos ao chão
Nu quer tocar, quer gritar
Pois não tem a rabeca à mão

Em 24/09/2012.

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