Crítica
do conjunto de poemas dO Tal, de Elesbão Ribeiro
O
processo de criação da poética de Elesbão Ribeiro é a construção e
desconstrução dos elementos que dispõe no espaço situacional. Esses elementos
são sempre, em primeiro momento, dispostos com sua mais tradicional acepção. No
entanto, o poeta desconstrói o que levou o leitor a essa compreensão,
transformando os elementos em seu ideário oposto, para novamente citar a ordem
tradicional – ou levantar impressões de que voltará a fazê-lo – e finalmente
conduzir a outro ponto de interpretação, que pode ser mais distante ainda que a
ideia original sugeria.
O
que temos na obra de Elesbão Ribeiro é o constante processo de transformação
dos elementos atirados ao espaço poético. Nada pode ser declarado fixo, nada
possui constância. Temos apenas a certeza de que os elementos se transformarão
durante o curso do poema e além, em suas sequências.
Como
vemos nos poemas de O Tal, as
metamorfoses sofridas pelo mestre, seu discípulo, a empregada e o próprio
mosteiro – que aqui reforça a ideia do sema tradicional na relação mestre /
aluno – tornam os poemas quase líquidos devido sua inconstância. A natureza
metamórfica dos elementos faz-se presente a cada verso, surpreendendo o leitor
pela possibilidade de situações ocorridas.
O
fato que mais provoca graça é a relação entre bofetadas de mestre e discípulo,
onde é o discípulo quem age assim na maior parte das vezes. A ideia do tradicional
vai por água abaixo.
A
empregada representa o mundo externo ao mosteiro, com seu ceticismo às “lições”
que não são de todo entre aspas. Ela representa também o pragmatismo ao não se
deixar aprofundar nas questões debatidas entre ambos.
O
cenário – que geralmente parece ser vazio em obras do tipo – é fundamental para
lembrar a todo instante ao leitor da seriedade e ebriedade que um aprendizado
de tal importância deve ter, mesmo sendo transfigurado ora em mosteiro, ora em
convento.
Por
fim, os questionamentos do discípulo, os enigmas do mestre não são o non sense declarado. Antes, são cruciais
para definir o humor na obra, descontruir a imagem de ambos os personagens,
desacreditar o leitor da relação tradicionalmente evocada ao que vem a ser um
mestre e seu aluno, para no fim mostrar que havia de fato um aprendizado e nada
fora gratuito ou tresloucado durante as inúmeras mutações sofridas por seus
elementos.
Só
então é aí perceptível a relação do nome do conjunto de poemas O Tal com o taoísmo. O que a princípio
dispôs-se com uma imagem tradicional, reconfigurou-se com seu inverso em valores,
mas que no fim convergiu para um novo entendimento do que vem a ser, não o Tao, mas O Tal.
E
que brilhante ideia a de não usar pontos, vírgulas e afins.
Desconstrução
total!
Rodrigo Martins
Em 03/12/2014.