Este é um dos contos mais doces e ao mesmo tempo aterradores de Neil Gaiman. A ponte do troll se assemelha, em minha ótica, em muitos aspectos, a Estranho caso de Benjamin Button. Por quê? Porque se em Estranho caso de Benjamin Button o próprio Benjamin nasce velho, vai rejuvenescendo ao longo da trama e termina seus dias como um bebê, A ponte do troll nos mostra um retrocesso na maturidade do personagem. Ele é mais decidido em sua infância – no que ludibria o troll e não o teme – do que em sua adolescência – perde a grande chance com a menina, atribuindo a culpa ao troll – vida adulta, onde perde sua esposa.
Estas três fases possuem um ponto determinante: o encontro com o troll. Em cada uma delas, o personagem lida com esta entidade de maneira correspondente a sua idade. Porém não parecem a mesma pessoa ao longo do conto. O que se perde é justamente a auto-confiança. O que na infância era feito com tranqüilidade, com certa naturalidade, na adolescência o desespero impera e na vida adulta ocorre a entrega.
Contudo se na adolescência e na vida adulta crescem o medo, a insegurança, a imaturidade, na infância este sintoma já é percebido. Eles estão lá, imersos no personagem, como que “crescendo” com ele. E o evento onde se fazem presentes é a afirmação do personagem que diz não ter medo do troll por ser dia.
A entrega do personagem na vida adulta simboliza a perda, a perda de tudo: do que deixou de construir, da família, do desejo da adolescência. Ou seja, ele chegou ao fim de sua vida antes mesmo de morrer. Para tanto buscou o troll, seu objeto de adoração e temor, porque se sua vida chegou ao fim e seu corpo não tombou, era a hora de cumprir sua promessa (de infância).
E mais uma vez mestre Gaiman fez o que seus leitores não esperavam – ou talvez esperassem mesmo: a surpresa. Este é um dos finais mais lindos de sua obra. Enquanto se esperava que o troll desmembrasse o corpo do personagem, comesse sua carne, bebesse seu sangue, ele tão simplesmente trocou de corpo com o personagem. A descrição da visão do personagem olhando seu corpo novo, suas mãos peludas, olhando o sorriso do troll no que fora anteriormente seu corpo é de uma sutileza ímpar, que emociona o leitor, descortinando essa transmigração de almas diante de nós.
Obrigado, mestre Gaiman.
Um trecho deste conto pode ser conferido em aqui, e esta é a sinopse do filme.
Em 27/10/2010
quarta-feira, 9 de março de 2011
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Olá! Muito bom a sua resenha. Ainda não conhecia esse livro do Gaiman, mas vou procura-lo para ler. Fiquei curiosa! rsrs
ResponderExcluirObrigada por visitar meu blog! Gostei muito do seu tbm ^^
Abraços!
http://hausofdiamonds.blogspot.com/
Valeu. Obrigado, Fátima. Nós, fãs de Gaiman sempre temos muito que trocar um com os outros. Abraços.
ResponderExcluirAcabei de ler esse conto.. sensacional!
ResponderExcluirna parte que Jack e a garota estão sob a ponte, cheguei a pensar que a garota fosse o troll, haha sem contar que por várias vezes durante a leitura fui surpreendido.
Irei reler novamente. Parabéns pela critica.
Muito obrigado, Kalebe. Bom saber que os fãs de Gaiman gostaram.
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