terça-feira, 8 de março de 2011
Entrevista com Papai Noel e Ling e Ping
Esta é a primeira da série "Entrevista com personagens", onde o Mundo da Penumbra entrevistará personagens, segundo a visão de seus autores. Os personagens abaixo são do escritor Thiago, de Carta para a Companhia Noel.
Após os festejos de fim de ano e as merecidas férias de Papai Noel e sua trupe , conseguimos uma entrevista exclusiva com o dono da Companhia Noel - sim, ele mesmo - e seus ajudantes mais próximos, Ping e Ling.
Mundo da Penumbra: Em primeiro lugar gostaria de agradecer a atenção de vocês em responder ao Mundo da Penumbra. É uma honra para nós entrevistar entidades natalinas importantíssimas.
Noel: Ora, nós da Companhia Noel que agradecemos pela oportunidade.
Ling e Ping: E pela propaganda.
Mundo da Penumbra: Como é para você, Noel, dirigir por tanto tempo uma empresa líder de mercado como a Companhia Noel?
Noel: É uma satisfação. A cada ano que passa os nossos negócios aumentam. E devo tudo isso às pessoas que não param de ter filhos, um atrás do outro.
Mundo da Penumbra: Uma curiosidade que muitas pessoas tem é a respeito do critério do quê é ser bom ou mau garoto. Como é empregado esse conceito e quem observa essas crianças?
Noel: Bem, você tem que ver que as coisas mudaram, desde a época que fundei a empresa. Antes a fábrica se localizava em meu chalé de verão lá no pólo norte, mas com o passar do tempo o dinheiro foi entrando, e eu fui investindo cada vez mais até a empresa virar a multinacional que é hoje. E com o conceito de “bonzinho” e “vilãozinho” aconteceu o mesmo.
No início era bem mais fácil, não tinha tantas pessoas para julgarmos as ações. Podíamos avaliá-las por tudo o que elas faziam, e na véspera de Natal a presenteávamos. Hoje em dia as coisas mudaram, as crianças não são mais as mesmas. Os pensamentos delas são outros, e os critérios também. 50 anos atrás, se uma criança xingasse o pai, ela ficava de castigo e, por reciprocidade, não recebia o presente da Companhia no Natal. Mas hoje em dia, no século 21, as coisas estão muito diferentes, os valores mudaram. Em outras palavras: se a criança não matar e não colocar fogo na árvore de Natal, o resto está valendo.
Ping: Como o Noel falou: as coisas mudaram desde aquela época...
Ling: Eram tempos gloriosos, que faziam biscoitos para deixar para o papai Noel e ele contrabandeava para nós. Mas hoje em dia as crianças não querem saber de ter trabalho, compram os pacotes de biscoitos e pronto. Não tem mais aquela mágica de antes. Não valorizam as tradições.
Ping: Sem contar que algumas só deixam duas ou três bolachas e comem o resto do pacote. Crianças egoístas.
Ling: Mas voltando a sua pergunta, sobre quem avalia o critério, somos nós, os duendes mesmo. Noel é um cara muito ocupado, e tem que cuidar dos negócios da empresa...
Noel: Hohoho.
Mundo da Penumbra: Alguém já tentou enganá-lo negando ou afirmando algo que fez ou deixou de fazer?
Noel: Desde que o mundo é mundo sempre vão existir espertalhões. Isso acontece a todo ano. Por isso, aumentamos a nossa tolerância do que é certo ou errado, se não a empresa ia acabar falindo.
Mundo da Penumbra: Agora aos duendes, como é para vocês trabalhar na Companhia Noel?
Ling: Bem, ele nos trata como escravos. (risos)
Ping: Trabalho escravo mesmo. Somos operários e não recebemos nenhum direito trabalhista assegurado. (risos)
Noel: Hohoho.
Ling: Agora falando sério. Nós gostamos, podemos fazer o que queremos. Noel é um ótimo patrão, ele nunca nos perturba. Podemos criar a vontade que tudo sempre está bem. Ele é bem diferente dos outros espíritos...
Noel (interrompendo): Eu acho que para uma empresa crescer, o chefe tem que ser como um dos empregados, não ter distinção de cargo.
Ping: Ele é inconveniente. Mas é um bom cara, um bom administrador. A empresa não estaria no mercado esses séculos todos se ele não fosse.
Mundo da Penumbra: Já receberam propostas de outras empresas, como a Mattel, por exemplo?
Ping: Certamente. A concorrência sempre nos aborda com propostas. Falo por mim, não pelos outros. Eu nunca me venderia por menos de 5000 ao ano.
Mundo da Penumbra: E a segurança na linha de produção? Ela existe mesmo? Ou os duendes trabalham em condições impróprias?
Ling: Isso de insegurança no trabalho é história do populacho. Sempre vai ter alguém para reclamar. Você já ouviu alguém dizer que soube de um duende que morreu? Então. Somos que nem os anões.
Ping: A diferença é que eles tem a perna torta e são barbudos.
Ling: Isso depende, eu outro dia saí com uma, que meu amigo...
Mundo da Penumbra: Quais foram as coisas mais sem graça que já pediram?
Noel: Lembro de um garoto que pediu uma bola. Foi um tal de Edson, e se não em engano ele era do Brasil.
Entrevistador: do Brasil?
Noel: Sim, o povo daí geralmente não tem muita criatividade para presentes.
Ping: Lembro que uma garotinha pediu que os pais voltassem a ficar juntos. Foi um tédio só, eles eram muito caretas.
Ling: E quando aquele rapaz quis passar para faculdade, contando que o idiota era um cdf do cacete (risos). Acho que foi o presente mais fácil.
Mundo da Penumbra: E o presente que se recusaram a fazer?
Noel: Nunca nos recusamos a fazer presente algum. Tentamos atender a todos os pedidos sem distinção.
Mundo da Penumbra: Você poderia nos contar, Noel, o que personalidades históricas pediram?
Noel: Teve a vez que Colombo pediu para provarmos a teoria maluca dele de que a Terra era redonda. Eu fiquei meio contrariado com aquilo, sabe? Viajo há séculos para saber que a Terra era plana, mas como era um pedido, eu realizei e olha no que deu! Agora todo mundo acredita na baboseira dele.
Teve o Chaplin, que pediu aquele chapéu. Não foi um pedido grandioso, mas ele fez história, hohoho. Um bom garoto, o Chaplin.
Teve a Mulher Melancia e você já sabe bem o que ela pediu.
Um que me deixa orgulhoso e triste ao mesmo tempo foi o Hitler. Ele me pediu tanto o poder para dominar o mundo e chegou no final das contas o perdeu.
Sansão foi um cara maneiro, cabeludo. Eu gostava do estilo dele.
Mundo da Penumbra: Uma pergunta que nos chega por e-mail de um leitor do Mundo da Penumbra é: “como o Papai Noel atende a todos se ele sempre chega à meia-noite”?
Noel: Isso é simples. Temos redução no Imposto de Renda a cada dois presentes que entregamos, e tudo é revertido nas horas de entrega. Se entregamos dois presentes, a hora volta à meia-noite.
Mundo da Penumbra: A Marizette, que acabou de ligar para mim a cobrar, pergunta se crianças que não acreditam em Papai Noel, nem são cristãs ganham presentes se forem boas.
Noel: Com o tempo aprendemos a lidar com as coisas. Estamos em uma nova era, ninguém mais acredita no que não é lógico. A companhia Noel conseguiu burlar essa coisa toda, e não enfraquece com a falta de crença. E como só aparecemos por aqui uma vez ao ano e o relógio sempre fica voltando, só ficamos nessa terra uns dois minutos.
A empresa não faz distinção de crença ou descrença, fazemos o nosso trabalho. É com isso que acreditamos que vai chegar um dia e todos voltarão a acreditar na Companhia Noel.
Mundo da Penumbra: E uma criança egípcia, indígena, tibetana, que não faz nem idéia do que é o Natal, também ganha presente se obedecer a Rá, Tupã ou Buda?
Noel: Até ao Shalamar. Eu já disse, todos recebem presentes.
Mundo da Penumbra: Qual a mensagem que vocês deixam para as crianças que não foram atendidas esse ano?
Noel: Que continuem utilizando os produtos da Companhia Noel, pois o nosso dever é sempre servir bem a vocês.
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