segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Estranha morte em paz

Poema um tanto quanto diferente dos que estão aqui presentes. Vindo de uma época bem anterior aos demais, faz parte da poesia castelar, que em sua totalidade pode ser concebida pertencente ao tonus lunar.
Gira em torno de uma nova mitologia, escura, melancólica, terrivelmente sensível. Gestada também no universo espectral e teatral de Guimaraens, Poe e Dickinson.

Estranha morte em paz

Surge uma estrela no céu, onde estamos, no cemitério
De Nova Mag Mell, toda cheia de mistérios,
Sangra o nosso peito, ouvimos sons funéreos:
A filha de Helicon e um negro deus de Ériu.

Naufragam as galés nesta vida tormentosa,
Cobrem-se de marés nossas almas tristes;
Sabemos que é vida escura, não mar de rosas:
O sonho de dois não deixa a torre riste.

A lua nos cobre de horror,
Ilumina nossa cova aberta
– reminiscências da Era Fomor –

Tua mão desata da minha,
A Morte, ao longe, nos flerta,
Caminhamos sem mágica na varinha.

Rodrigo Martins

Pelos idos de 2003, caminhando pelo Arpoador.


quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Nocturnal

Um dos mais recentes sonetos que compus, voltando à antiga forma lunar, com a intensidade de Cruz e Sousa, o aparato imagístico do mestre Alphonsus e  ambiência de Poe.
Bonita pérola.
Me orgulho dessa dor.

Nocturnal

O coração que palpita na noite
É o mesmo que banhado pela foice
Espectral ao ver-te colher flores
Sorriu-se assim em música de teus odores

É a mesma noite que se faz em mim
Noite que urra sem nunca ter fim
Melancolicamente se abate
Como um gavião horrendo por toda parte

De sombras minh’alma se cobre
E deita em submerso leito
Por mais que por teu ser ore

Nunca a mim teu riso vem
Em fria pedra como em teu peito
Aqui espero por ninguém

Rodrigo Martins

Em 10/09/2012.


quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Darkness be my friend

Darkness be my friend

Cold sunlight falling on me
Cold sunlight falling on me
I am a lonely man
Sorrow is my friend
Fall asleep as the dawn comes up
A ray of hope again

Hold the crystal vision for a second
Let it pass
Hold the crystal vision for a moment
Make it last

Summer so quickly gone
Darkness be my friend
Nothing lasts forever
But the certainty of change

I am a lonely man
Sorrow is my friend
Nothing lasts forever
But the certainty of change
Nothing last forever
But the certainty of change

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Drummoniando

Por vezes os sentimentos negativos resultam em pequenas pérolas. Este pequeno orbe é influência e homenagem ao grande mestre que Drummond foi.

Drummoniando

É vontade que passa
Fogo que se consome
Melodia que se perde
Versos que se esquece

É mar que não ondula
Deserto que não esquenta
Vento que não refresca
Mal-estar que não adoece

É palavra sem sentido
Olhar sem emoção
Audição sem atenção
Luz sem claridade

A cidade leva
O amor leva
O trabalho leva
Fica a desilusão

Rodrigo Martins

Em 08\06\2013.