segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Estranha morte em paz

Poema um tanto quanto diferente dos que estão aqui presentes. Vindo de uma época bem anterior aos demais, faz parte da poesia castelar, que em sua totalidade pode ser concebida pertencente ao tonus lunar.
Gira em torno de uma nova mitologia, escura, melancólica, terrivelmente sensível. Gestada também no universo espectral e teatral de Guimaraens, Poe e Dickinson.

Estranha morte em paz

Surge uma estrela no céu, onde estamos, no cemitério
De Nova Mag Mell, toda cheia de mistérios,
Sangra o nosso peito, ouvimos sons funéreos:
A filha de Helicon e um negro deus de Ériu.

Naufragam as galés nesta vida tormentosa,
Cobrem-se de marés nossas almas tristes;
Sabemos que é vida escura, não mar de rosas:
O sonho de dois não deixa a torre riste.

A lua nos cobre de horror,
Ilumina nossa cova aberta
– reminiscências da Era Fomor –

Tua mão desata da minha,
A Morte, ao longe, nos flerta,
Caminhamos sem mágica na varinha.

Rodrigo Martins

Pelos idos de 2003, caminhando pelo Arpoador.


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