segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Estórias de um tempo longínquo


Esta estória surgiu durante uma aula no colégio em que leciono. A professora ao lado da minha sala estava falando sobre colonização na América espanhola. Uma aluna me pediu que fosse uma aula sobre redação. Então resolvi condensar os ótimos materiais que tinha em mãos. Enquanto eles faziam suas redações sobre o mote guerreiro>pirâmides na América>tribo eu compunha com muito carinho esta pequena pérola, que para mim é uma luna jena.
Bom divertimento nesta volta de uma longa inatividade.


Estórias de um tempo longínquo

O avô contava as estórias de seu povo ao pequeno curumim. A fala do avô era calma, suave, doce como uma melodia de flauta andina. O rosto do avô exibia um largo sorriso, sua face rachada pelos anos que vivera era uma imagem agradável de se contemplar.
Dado momento o curumim perguntou que sucederia se alguém de seu povo se aventurasse para além das terras de sua tribo. Então o avô fitou o horizonte, semi-cerrando os olhos; uma brisa de inverno soprou em seu rosto enrugado.
- Houve um de nós... Há muito tempo...
- E quem era?
- Um guerreiro muito poderoso. Ele conhecia o poder da dança. O segredo das plantas...
- Falava com animais? – perguntou radiante o curumim.
- Ele assumia a forma dos animais. Visitava-os freqüentemente. É dito que uma vez ele se transformou em guará e foi viver com uma loba.
- Puxa, quem seria um guerreiro assim?
- O avô do meu avô.
- Por favor, avô, conte-me as aventuras do avô de seu avô. – e sua voz tinha o suplício da curiosidade e admiração.
- Prefiro um outro dia, curumim. Hoje é o dia que não se deve perturbar aqueles que se foram. Devemos deixá-los vir sentar-se conosco quando assim desejarem.
- Então separaremos suas cabaças. Sua bebida. Sua comida.
- O avô do meu avô viajou para um lugar que os espanhóis chamavam de América Central. Lá, dizem que ele descobriu um tesouro há muito guardado.
- Que tesouro era esse?
- Um crânio de cristal.
- Uau! E ele trouxe para a tribo? Onde está?
- Muitos dizem que desapareceu quando o ele o tocou.
- Que sem graça. Imagine encontrar um tesouro e ele desaparecer.
- Na verdade o crânio se transformou em conhecimento e ele aprendeu tudo o que soube até o dia de sua morte.
- E onde ele achou esse tesouro?
- Ele não achou. Desde curumim ele procurava por esse conhecimento. Sendo assim, ele encontrou numa das pirâmides.
- Deve ter sido na maior, na mais imponente...
- Na verdade na menor. “São as menores coisas que guardam os maiores segredos.” E foi assim que o avô do meu avô aprendeu tudo o que sabe. E nos ensinou o que aprendeu. Foi realmente uma pena que não pudemos aprender tudo o que ele tinha a nos ensinar.
- Conhecimento desperdiçado... – refletiu o curumim.
- Mas é claro que não. Tupã é misericordioso. O guerreiro sempre volta à vida como um de nossa tribo...
O vento de inverno soprou mais forte. No rosto dos dois. Ambos pareciam velhos. Recurvados pelo peso de suas idades.

(MARTINS, Rodrigo Garcez. Estórias de um tempo longínquo. 30/04/2010.
Composto em sala de aula para bons alunos de um 7º ano)

3 comentários:

  1. Lembrar das origens indígenas não é só importante como obrigatório para todos nós, bela estória, singela e grande! Parabéns!

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  2. Passa tempo, se vai o tempo, o escritor nos deixa na saudade, sorte a minha ser seu primo e com isso , ler a história toda e poder comenta-la.

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  3. vlw mesmo pela força de vcs. e q o projto de ambos siga firme e forte.

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