domingo, 12 de setembro de 2010

Há ninguém? 2


Segue aqui a continuação do conto referente à postagem anterior. Ainda não está completo, mas assim que tiver mais tempo - realmente essas semanas estão conturbadas - posto o restante. Ele também não está finalizado. Vou postando à medida que for escrevendo.


Há ninguém? 2

Acordei somente no dia seguinte. Pensei em tomar um esporro do dono do salão. Mas que nada. Ninguém veio reclamar comigo. Então aproveitei para fazer um bigode naquelas modelos anoréxicas. Rolei na cadeira e dormi mais um pouco. Depois fiquei pelado e tomei um banho com aquele chuveirinho de enxaguar cabelo. Me ensaboei com xampu de kétastase. Cansei daquele camisão de banda e o vesti num santo de candomblé. Peguei um pedaço de queijo holandês como café da manhã.
Como não tinha um puto no bolso, entrei na loja de playboy, esvaziei o caixa e fui no boteco do outro lado da rua tentar ganhar uma grana no caça níquel. Perdi tudo que tinha. Fui para a loja de lingerie, esvaziei o caixa e voltei para o boteco para usar a máquina de caça níquel como porquinho. Fui a uma grande loja de roupas e peguei uma camisa vermelha e troquei meus tênis. Do outro lado da rua subi as escadas e fui a um daqueles lugares que compram e vendem ouro e prata. Comprei à prestação um cordão dourado com o Sol de Maio. No caminho encontrei uma loja de sapatos. Me encantei por um sapatinho de malandro. Ele era branco com uma listra preta larga do peito do pé até o bico. Como tinha guardado meu dinheiro no caça níquel, paguei com meus tênis novos.
Retornei ao shopping center, entrei numa loja de conveniências, peguei um monte de biscoitos, fui ao cinema e assisti aos filmes que estava passando. Cochilei em alguns, ri em outros, mas no total valeu a pena. Porém estava começando a ficar entediado de não ter ninguém. Pensei em ir até a praça de alimentação e me desculpar com a fofucha. Mas era caso perdido. Logo no primeiro encontro e faço isso. É melhor deixá-la trabalhar sossegada. O sozinho no mundo sou eu e não ela.
Este dia terminou e o outro também. Comecei a me repetir nas coisas que fazia. Então pensei em roubar um carro. Logo no meu primeiro furto a automóveis a chave estava na porta. Quem deixaria a chave na porta de um Voyage 2008? Nem eu num mundo sem ninguém. Liguei a charanga e o tanque estava cheio. Agora sim não me sentia mais sozinho. Era apenas eu e a máquina. O filho do piloto e o Silver Devil. Voamos durante uma hora. Não liguei o ar. Queria conhecer a sensação de cantar uma garota encharcado de suor e aos berros.
Não havia garota alguma, nem mulheres maduras, nem senhoras, gordas, magricelas, freiras, mulatas. Parei o carro no meio da rua fechando o trânsito e gritei bem alto que era o rei, o rei da minha cidade natal. Silver Devil gritou junto. E mais alto até. Resolvi dar uma passada na igreja perto de onde morei quando criança. Tinha resolvido morar lá. A porta da igreja estava fechada, mas não trancada. De tanto puxar consegui abrir. Entrei e fiquei examinando. Não podia morar ali com aquela mobília. Precisava de móveis novos. Fui até Silver Devil e peguei uma folha com a marca d’água da justiça federal. Comecei a fazer minhas anotações. Depois era só ir às compras.
Ouvi um barulho de galhos estalando. Fui ver o que era. Uma menina com olhos vermelhos de tanto chorar estava de pés juntos coçando o rosto. Apesar da tristeza era uma bela imagem a ser vista. Corri até ela, perguntei o que havia acontecido. Por que estava ali?

Leia também as 1ª e 3ª partes deste conto:

Há ninguém?

Há ninguém? 3

2 comentários:

  1. Grande continuação, agora estou curioso, uma menina chorando, para quem estava sozinho ver uma menina de repente do nada é um tanto quanto misterioso.

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  2. Tem a 3ª parte. Clique nela e verá a continuação deste conto. Aguardo críticas heim.

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